Comecemos o artigo de uma forma direta.
Olhem para o gráfico abaixo, gráfico em que mostra a dinâmica das "recuperações judiciais" em curso no Brasil nos últimos meses.
Algum sistema bancário sobrevive a esse quadro, a essa dinâmica sem arranhões sérios?
Você pode postergar, "contar até 3", rezar, teimar, relevar, mas o paredão é logo ali na frente.
Nenhum, absolutamente nenhum sistema bancário resiste a isso sem se machucar gravemente no médio-longo prazo.
O que vocês acham que aconteceu no Brasil nos últimos 3-4-5 anos? Alguém já parou, parou mesmo para pensar sobre o que aconteceu? Sobre o que cada brasileiro comprava em 2010-2011 e compra agora? Uma parcela forte, considerável da sociedade brasileira foi completamente dizimada de patamares medianamente básicos de consumo.
Nesse contexto, parte de um estudo de autoria de Adriano Pitoli, economista, e diretor da área de Análise Setorial e Inteligência de Mercado da Consultoria Tendências, foi publicado em matéria do Jornal "O Globo" no último domingo
Vamos a parte dela: Título: “Um milhão de famílias entrará para as classes D e E até 2025. Mesmo com retomada da economia, haverá expansão da pobreza"
Com a recessão e a alta da inflação, os ganhos desse período se perderam de 2014 a 2016, período em que as classes D e E tiveram aumento de 3,5 milhões de famílias. Com base no estudo, nem mesmo uma década será capaz de aliviar integralmente os efeitos da recessão. Quando você conduz mal a política econômica, deixa a inflação subir, as mais prejudicadas são as famílias de menor renda. Há muita coisa errada para consertar na economia. O mercado vai continuar muito fraco. As empresas vão demorar a voltar a contratar. Daqui por diante não tem mágica. As famílias vão ter de se acostumar a viver com menos por mais tempo — resume Pitoli.
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Esqueçamos o Brasil momentaneamente.
Em estudo-artigo apresentado em setembro do ano passado, o FMI alertou para o a explosão dos níveis de endividamento das empresas nos mercados emergentes. Os 2 gráficos expostos no estudo e que resumem sua essência podem ser vistos abaixo, separando-os em valores absolutos e relativos ao PIB nos diversos mercados:
Como chegamos a assustador quadro ?
O próprio FMI dá sua versão correlacionando-o às baixas taxas de juros praticadas nos últimos anos no mundo desenvolvido. Diz parte do texto:
Low interest rates in advanced economies such as the United States, Europe, and Japan have encouraged this borrowing. The increase in firms’ debt-to-asset ratio, commonly known as leverage, has often included a higher share of foreign-currency liabilities.
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Mas, é possível ir além. A bolha de commodities que percorreu o período 2006-2011 é também grande vetor.
Uma bolha de commodities associada as irresponsáveis políticas monetárias dos Bancos Centrais dos países desenvolvidos, mais especificamente, EUA, Europa e Japão, provocaram uma outra gigantesca bolha, a "Bolha de Crédito"; bolha essa que ainda conseguiu ser jogada na estratosfera quando se misturou a governos populistas, caso do Brasil.
Dinâmicas como essas são destrinchadas e estudadas por alguns acadêmicos, algumas dessas considerações foram expostas no livro de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, "Oito Séculos de Delírios Financeiros", e já discutidas por mim.
Cabe a pena revê-las em parte:
A maioria dos países (61%) registra alta propensão a passar por crises bancárias nas proximidades de períodos de bonança; essa percentagem seria mais alta se considerassem dados pós-2007. Essas descobertas sobre bonanças de fluxos de capitais também são consistentes com outras regularidades empíricas, identificadas em torno dos ciclos de crédito. Mendoza e Terrones. Com base em abordagem muito diferente do que acabamos de discutir, constataram que os booms de crédito em mercados emergentes geralmente se seguem a surtos nas entradas de capital. Também concluíram que, embora nem todos os booms de crédito terminem em crises financeiras, a maioria das crises em mercados emergentes foi precedida por booms de crédito ("Oito Séculos de Delírios Financeiros, Ed.2010, págs. 157 e 158)
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Como toda essa questão complexa se revela para os agentes econômicos no dia a dia. no mês a mês, no ano a ano?
No curto prazo, de fato, os dados que permeiam a teia do mercado financeiro parecem carregar um alto teor de aleatoriedade. Porém, no longo prazo, não é bem isso que vemos.
Há padrões que "saltam aos olhos" em vários mercados, em várias situações, em várias realidades. Por exemplo, diferente do que se possa imaginar, a alta do "Ouro" não coincide com graves crises financeiras ao longo do tempo.
Vejam a trajetória do ouro nas últimas 3 Grandes Crises Financeiras, a "Crise da Dívida da América Latina nos anos 80", a "Crise da Ásia" no final dos anos 90, e a "Crise do Subprime":
Ouro, período 100 anos
Fonte: Macrotrends.net
Quando olhamos Crises Financeiras agudas, 2 padrões nos chamam a atenção:
A força do Dólar e a dinâmica do TED, o "Spread entre a taxas de juros londrina Libor de 3 meses e o título do tesouro americano de 3 meses"
Reparem no "TED" nas 3 últimas grandes crises, a "Crise da Dívida da América Latina nos anos 80", a "Crise da Ásia" no final dos anos 90, e a "Crise do Subprime":
TED, Período 30 anos
Fonte: Federal Reserve Bank of St Louis
Agora, vamos ao índice "dólar", um "índice" composto por uma cesta de moedas. Reparem no Índice Dólar, principalmente em 2 das 3 últimas grandes crises, a "Crise da Dívida da América Latina nos anos 80"e a "Crise da Ásia" no final dos anos 90
Índice Dólar, período 35 anos
Fonte: Tradingeconomics.com
Retornem os olhos para os 2 gráficos acima. TED em clara dinâmica altista, "andando" sobre os níveis de ruptura-divisores clássicos-históricos de 60 pontos-base, nível de risco excessivamente alto.
E "dólar" rompendo uma Linha de Tendência de baixa de 30 anos
Por curiosidade, vamos ao "dólar" no SEMANAL, período 4 anos
Por fim, observem a periodicidade das Crises Financeiras dos últimos 40 anos.
Há uma incrível "coincidência", um padrão de recorrência de crises que gira em intervalos de 10 anos.
- Ápice da Crise da Dívida da América Latina -1985-1986-1987. Brasil decretou, por exemplo, a Moratória da Dívida Externa em 1987
- Crise da Ásia - 1997
- Crise do Subprime - 2007-2008
E, agora? 2017-2018?
Todos olham para o Deutsche Bank.
Como disse Nassim Taleb em seu livro "A Lógica do Cisne Negro", "Cisnes Cinzas" existem em muito mais quantidade. Talvez o "Deutsche" seja um "Cisne Cinza”.
Talvez os mercados emergentes, atolados em dívidas corporativas colossais, sob ambientes cujas dinâmicas econômicas desafiam os mais otimistas, sejam de fato o "Cisne Negro" que emergirá.
Quem? Brasil, China, Ásia. Quem?